Faculdade de Educação - FE.
Disciplina: Práticas Mediáticas na Educação
Docente: Prof. Ms. Pedro Andrade
Discente: Alex Cleberson Andrade Neves Matrícula: 11/0106407 Turma: A
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FICHAMENTO II
CYSNEIROS, P. G. Novas tecnologias na sala de aula: melhoria
do ensino ou inovação conservadora?
Informática na Educação. n.1,
vol.12, 1999, p. 11-24. Disponível em: <http://fe-virtual.fe.unb.br/file.php/133/Novas-Tecnologias-Na-Sala-de-Aula-Melhoria-Do-Ensino-Ou-InovaCAo-Conservadora.pdf>.
Acesso em: 13. mai. 2012
1.
Resumo
O
texto fichado trata, inicialmente, da relação entre a aplicação e a qualidade
da tecnologia na educação e a realidade estrutural e didática das escolas.
Traça um percurso histórico e explicativo da incorporação da tecnologia
(informática) na educação, associando a tecnologia com a metodologia
tradicional de ensino e a dissociação existente entre estes modelos. Discute,
ainda, a relação conflituosa entre internet, informação e educação e o
professor enquanto sujeito passivo, mas, ao mesmo tempo, mediador deste
processo. Ao final, oferta uma compreensão sobre o uso da tecnologia na
educação por intermédio da abordagem fenomenológica.
2. Citações principais do
texto
1.1
Introdução
Nas grandes cidades, as salas de aula
de [...] escolas tem pouco espaço físico, são ruidosas, quentes e escuras,
desencorajando qualquer outra atividade que não seja a aula tradicional. A
arquitetura pobre e o mobiliário desconfortável e precário dificultam o trabalho
intelectual de alunos e mestres. São instituições dependentes da administração central
das redes escolares, em contextos de forte dependência da burocracia cristalizada
e das oscilações de quem estiver no poder (CYSNEIROS, 1999, p.11).
O professor encontra-se sobrecarregado
com aulas em mais de um estabelecimento, falta-lhe tempo para estudar e
experimentar coisas novas, recebe baixos salários. Mas também em tais escolas [...]
a grande maioria de professores e professoras [...] desenvolveram formas
criativas de ensinar e de educar, construídas dentro das limitações e das
condições existentes. À partir desta atitude de respeito, de aprendizagem
mútua, tem sido possível experimentar novas abordagens, com alguns sucessos em
meio a alguns fracassos (CYSNEIROS, 1999, p.11).
1.2 História da tecnologia educacional
Para
Cysneiros (1999, p.12) ao tratarmos de novas abordagens de comunicação na
escola, mediadas pelas novas tecnologias da informação, estamos tratando de
Tecnologia Educacional.
Sua
principal conclusão é que o uso de artefatos tecnológicos na escola tem sido
uma história de insucessos,
caracterizada por um ciclo de quatro ou cinco fases, que se inicia com
pesquisas mostrando as vantagens educacionais do seu uso, complementadas por um
discurso dos proponentes salientando a obsolescência da escola. Após algum
tempo são lançadas políticas públicas de introdução da nova tecnologia nos
sistemas escolares, terminando pela adoção limitada por professores, sem a
ocorrência de ganhos acadêmicos significativos. Em cada ciclo, uma nova
seqüência de estudos aponta prováveis causas do pouco sucesso da inovação, tais
como falta de recursos, resistência dos professores, burocracia institucional,
equipamentos inadequados (CUBAN, 1986, apud
CYSNEIROS, 1999, p.13).
Cuban
(1986 apud Cysneiros, 1999, p.13) nos mostra coisas interessantes, como o
trecho de um discurso de Thomas Edison (inventor do telégrafo, do gramofone e
da lâmpada elétrica), prevendo, em 1913, que os livros didáticos se tornariam
obsoletos nas escolas e que, usando filmes, seria possível instruir sobre
qualquer ramo do conhecimento humano. Em 1922, Edison ainda afirmava que “... o
filme está destinado a revolucionar nosso sistema educacional e em poucos anos
suplantará em muito, senão inteiramente, o uso de livros didáticos”.
Nossa
utopia é sempre tentar mudar a história futura para melhor, e não defendo
posições tradicionalistas ou contrárias à
tecnologia na educação. Vejo as novas tecnologias como mais um dos
elementos que podem contribuir para melhoria de algumas atividades nas nossas
salas de aula. Por outro lado, também não adoto o discurso dos defensores da
nova tecnologia educacional, que mostram as mazelas da escolas (algo muito
fácil de se fazer), deixando implícito que nossos professores são dinossauros
avessos a mudanças. É um discurso tentando nos convencer a dar mais importância
a objetos virtuais, apresentados em telinhas bidimensionais, deixando implícito
que a aprendizagem com objetos concretos em tempos e espaços reais está obsoleta.
No Brasil percorremos uma história análoga, certamente mais recheada de
insucessos, como demonstram teses e dissertações sobre o tema. Também tivemos
uma política de rádio na educação, seguida de outras com grandes investimentos
nas televisões educativas em todo o país, sempre acompanhadas de discursos
inovadores. (CYSNEIROS, 1999, p.14).
Na
época, a contradição entre tecnologia de ponta e escolas precárias era mais
evidente, uma vez que os computadores eram máquinas mais caras e não estavam
tão disseminados na sociedade como hoje. Aprendemos que a expectativa de administradores,
professores, alunos e pais era que se ensinasse informática na escola, não no
sentido de uso pedagógico de computadores. Atualmente estamos vivendo um outro
estágio, com uma política federal de se colocar 100 mil computadores em escolas
públicas e treinar 25 mil professores em dois anos, através do projeto PROINFO[
xii] cujo ponto divergente de políticas passadas é a intenção de se alocar quase metade do dinheiro
para formação de recursos humanos, procurando evitar os erros cometidos em
programas deste mesmo governo como o vídeo escola, onde a ênfase maior foi na
colocação de equipamentos nas escolas (CYSNEIROS, 1999, p.15).
1.3 Inovação conservadora
O
fato de se treinar professores em cursos intensivos e de se colocar
equipamentos nas escolas não significa que as novas tecnologias serão usadas
para melhoria da qualidade do ensino. Em escolas informatizadas, tanto públicas
como particulares, tenho observado formas de uso que chamo de inovação
conservadora, quando uma ferramenta cara é utilizada para realizar tarefas que
poderiam ser feitas, de modo satisfatório, por equipamentos mais simples (atualmente,
usos do computador para tarefas que poderiam ser feitas por gravadores,
retroprojetores, copiadoras, livros, até mesmo lápis e papel). São aplicações
da tecnologia que não exploram os recursos únicos da ferramenta e não mexem
qualitativamente com a rotina da escola, do professor ou do aluno, aparentando
mudanças substantivas, quando na realidade apenas mudam-se aparências (CYSNEIROS,
1999, p.15-16).
Atualmente
a inovação conservadora mais interessante é o uso de programas de projeção de
tela de computadores, notadamente o
PowerPoint, com o qual o espetáculo visual (e auditivo) pode tornar-se
um elemento de divagação, enquanto o professor solitário na frente da sala
recita sua lição com ajuda de efeitos especiais, mostrando objetos que se
movimentam, fórmulas, generalizações, imagens que podem ter pouco sentido para
a maioria de um grupo de aprendizes. A inatividade (física e mental) do
aprendiz é reforçada pelo ambiente da sala, geralmente à meia luz e com ar condicionado.
Como veremos mais adiante, tais tecnologias amplificam a capacidade expositiva
do professor, reduzindo a posição relativa do aluno ou aluna na situação de aprendizagem
(CYSNEIROS, 1999, p.16).
Quando
analiso tais tecnologias nas minhas aulas, tenho observado reações espontâneas
de professores que se impressionam, fazendo comentários tipo “que maravilha.”
Tais reações são indicadores da crença secular de um grande número de
educadores, que ensinar é expor, embora possam dizer o contrário. Não quero com
isso afirmar que tais tecnologias de exposição não são úteis. São sim, nas mãos
de mestres criativos, dentro de contextos apropriados. Podem ser usados quando
se deseje que o aluno não se distraia copiando detalhes, pedindo-se logo depois
que ele ou ela trabalhe com o material impresso copiado do quadro eletrônico.
Também podem facilitar a comunicação e a vida do professor, possibilitando
criar transparências em pouco tempo, praticamente durante uma aula, para
responder a dúvidas de alunos, quebrar a
monotonia, preparar rapidamente material
para aulas seguintes (CYSNEIROS, 1999, p.16-17).
A
presença da tecnologia na escola, mesmo com bons software, não estimula os
professores a repensarem seus modos de ensinar nem os alunos a adotarem novos
modos de aprender. Como ocorre em outras áreas da atividade humana, professores
e alunos precisam aprender a tirar vantagens de tais artefatos. Um bisturi a
laser não transforma um médico em bom cirurgião, embora um bom cirurgião possa
fazer muito mais se dispuser da melhor
tecnologia médica, em contextos apropriados (CYSNEIROS, 1999, p.18).
1.4 Internet, informação e educação
Outro
aspecto que pode confundir o educador é o discurso da necessidade da informação
[...] que nos causa de inicio certa angústia ao concluirmos que a escola não
tem acesso imediato à enorme quantidade de informação que é produzida
diariamente no mundo (CYSNEIROS, 1999, p.18). Dai é fácil concluir que a escola
também está obsoleta, que a disciplina que ensina está desatualizada, que os
livros são antiquados, etc. Em tais horas, devido ao sentimento de inadequação,
não ocorre ao professor que o mais importante é o ato de pensar com determinadas
informações, não o acesso indiscriminado a qualquer informação (CYSNEIROS,
1999, p.19).
Embora
a Internet seja um recurso com muito potencial para determinadas atividades
educativas, ela também pode ser mais um fator de colonialismo cultural, pois
estamos recebendo a informação daqueles
que tem condições de colocá-la nos computadores, reduzindo nossa presença e
ampliando o alcance do poder de suas idéias, com todos os fatores associados do
formato hiupertexto, da velocidade, de multi-representações. Nesta ótica, é
muito importante que coloquemos tais máquinas nas mãos de nossas crianças e
adolescentes, porém sempre predominando o ato de educar, de examinar criticamente - numa
atitude freiriana -, aquilo que está lá. Onde a sabedoria de um professor
de uma escola rural, ou de um velho pescador da comunidade, pode ser mais importante
para a formação da identidade da criança e para a sobrevivência da cultura do
que toda a informação que é produzida diariamente nos lugares sofisticados do planeta
(CYSNEIROS, 1999, p.20).
Embora
devamos perseguir o ideal de uma aprendizagem estimulante e auto motivadora - em
salas de aulas ricas em recursos e com respeito à individualidade e
espontaneidade do aprendiz - sabemos que além do prazer da descoberta e da
criação, é necessário disciplina, persistência, suor, tolerância à frustração,
aspectos do cotidiano do aprender e do educar que não serão eliminados por
computadores (CYSNEIROS, 1999, p.20).
1.5 Uma concepção fenomenológica da
tecnologia educacional
[...]
sinto falta de uma abordagem coerente, que tenha começo, meio e aponte para
algum fim. Esta necessidade torna-se mais saliente quando trabalhamos com a
formação de professores em informática na educação, que aprendem habilidades
diversas e são expostos a teorias e pontos de vista muitas vezes desconexos (CYSNEIROS,
1999, p.20). Na tentativa de dar coerência ao todo, fui encontrar na Filosofia
(como não poderia deixar de ser), um dos enfoques amplos que podem servir como
ponto de partida. Numa perspectiva das filosofias da práxis [...] (CYSNEIROS,
1999, p.21).
A
Fenomenologia tenta abordar os objetos do conhecimento tais como aparecem, isto
é, tais como “se apresentam” à consciência de quem procura conhecê-los,
tentando deixar de lado toda e qualquer pressuposição sobre a natureza desses
objetos (Heidegger, Rezende) Um dos primeiros passos neste sentido é tentar
rever a experiência psicológica do óbvio, do cotidiano, cujo conhecimento é
embotado pela familiaridade. Tal abordagem, embora pareça fácil, torna-se
difícil pela enorme complexidade da experiência humana. Como diz um ditado, o
peixe é o último a descobrir a água (CYSNEIROS, 1999, p.21).
Uma
das conclusões de uma primeira análise fenomenológica superficial é que a tecnologia não é neutra, no sentido de que seu
uso proporciona novos conhecimentos do objeto, transformando, pela mediação, a
experiência intelectual e afetiva do ser humano, individualmente ou em
coletividade; possibilitando interferir, manipular, agir mental e ou
fisicamente, sob novas formas, pelo acesso a aspectos até então desconhecidos
do objeto (CYSNEIROS, 1999, p.21). Em certas situações o texto em papel é muito
mais cômodo que em computador. Mas se quero reescrever um artigo ou enviá-lo
para um colega noutra cidade, a forma eletrônica é muito mais adequada. A
história pessoal de muitos de nós, acostumados com a escrita em papel, revela
nossas reações de surpresa (efeito dramático), quando experimentamos, nas
primeiras vezes, o ato de escrever mediado pelo computador (CYSNEIROS, 1999,
p.22).
Esse
tipo de construção de novas formas de ensinar e de aprender, de conhecimentos
novos, exigirá do professor uma atitude permanente de tolerância à frustração e
de pesquisa não formal, de busca, de descoberta e criação [...]. Descoberta de
usos pedagógicos da tecnologia já experimentados por outros, que exige
comunicação, troca, estudo, exploração. Criação no sentido de adaptação, de extensão,
de invenção. Em ambos os casos, fracassos e sucessos são faces da mesma moeda,
com demonstra a história da produção humana de conhecimento e especificamente
as histórias de sucesso em informática na educação (CYSNEIROS, 1999, p.23).
[...]
aspectos da experiência humana da escola e do ato de educar, nos conteúdos das
várias disciplinas e séries, merecem e podem ser transformados, ampliados ou
reduzidos com a Informática e a Telemática? Quais as implicações das reduções
que inexoravelmente ocorrerão, uma vez passado o caráter dramático inicial?
Tais perguntas não são fáceis de responder, mas podem servir de guias genéricos
para a reflexão e a experimentação em situações do cotidiano da escola, onde o
professor e o administrador dispõem pouco do apoio confortável e protetor de conhecimentos acumulados, pois o uso pedagógico
das novas tecnologias é algo relativamente incipiente (CYSNEIROS, 1999, p.23).
3. Comentários (parecer e crítica)
O texto oferta
compreensões estruturais sobre o uso da tecnologia nas instituições escolares,
enfatizando os investimentos do Estado e a necessidade da contínua qualificação
do professor para o uso adequado e qualitativo dos instrumentos tecnológicos no
cotidiano escolar. Oferta, ainda, alternativas para que a relação
professor-tecnologia-aluno seja positiva e produza resultados que possam
colaborar com o processo de ensino/aprendizagem.
4. Questionamentos (questões levantadas e
dúvidas)
O texto
identifica os elementos que norteiam as deficiências na inserção da tecnologia
no ambiente escolar e propõe estratégias para a minimização destes conflitos,
entretanto, tais propostas permanecem na dimensão teórica e não apresentam
perspectiva de aplicabilidade. É preciso, assim, construir em conjunto com a
comunidade escolar as estratégias para que a relação da escola com a tecnologia
esteja baseada na busca pela melhoria do ensino e na ascensão do aluno.
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